«Paris é uma cidade de que se pode falar no plural, tal como os gregos falavam de Atenas, porque há muitas parises e a dos estrangeiros só superficialmente tem algo em comum com a Paris dos parisienses. O estrangeiro que cruza Paris de automóvel e vai de museu em museu não suspeita sequer da presença de um mundo que lhe passa ao lado sem que ele o veja. A não ser que se tenha realmente perdido tempo numa cidade, ninguém poderá considerar que a conhece bem. A alma de uma grande cidade não se deixa apreender facilmente; é preciso, para comunicar com ela, termo-nos aborrecido, termos de algum modo sofrido nos lugares que a circunscrevem. Seja quem for, pode, sem dúvida, munir-se de um guia e constatar a presença de todos os monumentos, mas dentro dos próprios limites da cidade de Paris existe uma outra cidade de tão difícil acesso como foi dificíl outrora o acesso a Timbuctu.»
Julien Green, in "Paris" tinta da china, 2008
trad. Carlos Vaz Marques
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