«- Ao envelhecermos torna-se mais difícil arrancarmo-nos ao esplendor da paisagem que atravessamos. A pele desgastada pelo vento e pela idade, distendida pela fatiga e pelas alegrias, os diferentes pêlos, lágrimas, gotas, unhas e cabelos que caíram por terra como folhas ou hastes mortas deixam passar a alma, que se extravia cada vez mais amiúde no exterior do volume da pele. O último voo não é na verdade mais que uma dispersão. Quanto mais envelheço, melhor me sinto em toda a parte. Já não resido muito no meu corpo. Receio morrer um destes dias. Sinto a pele demasiado fina e mais porosa. Digo de mim para mim: um dia a paisagem há-de atravessar-me.»
Pascal Quignard, in “Terraço em Roma” ed. notícias, 2002
trad. Miguel Serras Pereira
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