OCULTO MAR PROFUNDO

Sob o tranquilo mar
há vales e ribanceiras de mistério
onde o tempo parece deter-se,
há uma população que se move
sempre à defesa
com os olhos abertos…

São como almas penadas
de um Inferno esquecido,
onde também há feras
movidas pelas fomes selvagens…

Há espécies em guerra
implacável e constante,
que matam por matar como na terra,
sem respeitar ninguém…

Monstros obstinados e tenazes
disfarçados de inocentes plantas
que enganam e seduzem o viandante,
— talvez turistas do país da água —
que ignoram o poder dos tentáculos…

E em eterno contraste,
há uma profusão de seres débeis
de uma beleza exótica,
que procuram os remansos aprazíveis
onde chega mais luz da abóbada…

Mas há um mar, um mar, um mar oculto,
um mar fundo escuro,
onde também há seres terríficos,
de olhos acesos, luminosos,
que vivem amparados por ínfimos moluscos,
fosforescentes, minúsculos,
que iluminam esses estranho mundo
para onde Deus desterrou os mais impúdicos ,
os mais vis, esquecidos por Dante,
os pútridos, torpes, negativos,
que por negarem a luz,
hão-de morar para sempre desterrados
nesse mar escuro,
nesse oculto mar…


Carlos Casassus, in "O Mar na Poesia da América Latina" assírio & alvim, 1999
trad. José Agostinho Baptista

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