ANTÓNIO PEDRO

Agora te descobrimos o truque:
tinhas as mãos como tambores inchadas
dos coelhos entre pele e metacarpo
donde os expelias fora por cotovelos

ficava-te na cara o riso da criança
frente ao mágico/circo
próprio, do tapete à lata do lixo,
à barrica outrora de peixe.

Como afinal tão mirradas?
— pois tudo continha além de roedores
(cada qual multiplicado); argamassavas
de génese argamassa e argumento
belas e malas artes

no acto gemelar de sentir
sobre nada o efeito de florir
ou degenerar, corroer, secar
até ao baixo da querida blasfémia
«a torpitude!»

Entre pele e metacarpo, borboletas
e coisas de subir, de canário a águia,
aviões, demónios celestes,
desamor dos Macbeth, não falando

da ratazana que te sobrevoa
em cada ejacular por poesia
de tua boca
doando chagas a indigentes,
poeira às serranias e fatídicas féeries,
à cabeleira de génios saciados
cada hora em nuvens da Serra d'Arga
onde sorvem os líquidos de sua dieta.

E também o alado deus de manobra
ex-máquina no espaço total
o qual reproduziste
de inconcreta maqueta em cada palco, ponto a ponto
correspondido o corpo do deus manobrante.

E tudo, por pânico e mãos, no inchaço
entre pele e metacarpo.


Carlos Wallenstein, in "Corpo Conflito" moraes, 1983

foto. Fernando Lemos [ A fala do gesto ] 1948

Sem comentários: