«A tolice não é o meu forte. Vi muitos indivíduos; visitei várias nações; tomei parte em cometimentos vários de que não gostei; quase todos os dias comi; e de mulheres também tenho que contar. Revejo agora umas centenas de caras, dois ou três espectáculos, e talvez a substância de vinte livros. Não retive o melhor nem o pior destas coisas: ficou como pôde.
Esta aritmética poupa-me o espanto de envelhecer. Poderia igualmente contar os vitoriosos momentos do meu espírito, imaginá-los juntos e e isolados, a formarem uma vida feliz… No entanto estou em crer que me julguei sempre bem julgado. Raramente me perdi de vista; detestei-me, adorei-me; — depois envelhecemos juntos.»
Paul Valéry, in "O Senhor Teste" relógio d'água, 1985
trad. Aníbal Fernandes
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