O BURRO E O PAPAGAIO

Num moinho, para além do burro que fazia girar a roda, havia um papagaio que sabia dizer ah, desgraçado! e o nome do patrão e muitas outras coisas. Ficaram ambos doentes, e veio o médico.
— É para mim! disse o papagaio. Vão tratar de mim porque são belas as minhas penas.
— Claro que não! respondeu o burro. Foi para mim que mandaram chamar o médico, porque sou eu quem faz girar a roda.
— Mas eu sei dizer ah, desgraçado!
— Mas eu é que faço girar a roda.
— Mas eu cumprimento o patrão quando ele passa.
— Mas eu é que faço girar a roda.
O médico curou o burro e deixou morrer o papagaio.
O mundo está feito assim, e é caso de espanto que o cinzento da pele do burro não cubra a terra inteira e que graciosas penas coloridas não desapareçam por completo.


O HOMEM E OS PEIXES

"Se o homem é tão perigoso para nós quando lança as redes ao ar, o que faremos quando ele conseguir penetrar nas nossas águas?" perguntou uma dourada.
E o tubarão, que tinha experiência, respondeu: "Uma boa refeição."


Italo Svevo, in "Fábulas" & etc, 2001
trad. Célia Henriques

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