1.Já sentiu, pelo menos uma vez, o desejo de chegar tarde ao trabalho, ou de sair mais cedo?

Nesse caso, compreendeu que:

a) O tempo de trabalho conta a dobrar porque é tempo perdido duas vezes:
- como tempo que seria mais agradável empregar no amor, no sonho, nos prazeres, nas paixões, como tempo do qual se disporia livremente.
- como tempo de desgaste físico e nervoso.

b) O tempo de trabalho absorve a maior parte da vida porque determina também o tempo dito «livre», o tempo de descanso, de deslocações, de refeições de distracção. Atinge assim o conjunto da vida quotidiana de cada um, e tende a reduzi-la a uma sucessão de instantes e de lugares, que têm em comum a mesma repetição vazia, a mesma ausência crescente de vida verdadeira.

c) O tempo de trabalho forçado é uma mercadoria. Onde quer que haja mercadoria, há trabalho forçado e quase todas a actividades se identificam, pouco a pouco, com o trabalho forçado: produzimos, consumimos, comemos, dormimos para um patrão, para um chefe, para o Estado, para o sistema da mercadoria generalizada.

d) Trabalhar mais é viver menos.


Ratgeb [Raoul Vaneigem], in “da greve selvagem à autogestão generalizada” assírio & alvim, 1974

5 comentários:

L. disse...

o vanegeim bem podia era ... ir trabalhar

ou talvez não precisasse...

Happy and Bleeding disse...

eu comungo da teoria.

Anónimo disse...

E pensar que em tempos nem queria tirar férias... pura dedicação profissional. Actualmente é mais tipo: Alguém tem férias para a troca????

João Carlos Santana da Silva disse...

Este texto é quase bíblico. Fiquei com vontade de ler o sr. Raoul Vaneigem.

vvv disse...

Parece que o Vaneigem tirou férias de ser revolucionário. Desde o Maio de 68, em que passou por Paris e não dando fé da natureza dos acontecimentos foi para a praia como planeado. E pelo que tem vindo a escrever é notório que se tornou um cretino, embora quero crer, não tanto como o I. aí em cima.