O grasnido cosmopolita dos crepúsculos
Fere as minhas angústias
E abate as ideias oceânicas das árvores enlouquecidas.
Estou corrompido
Aqui
Com os sapatos
E os meus universos,
Como o oceano a marulhar,
Morto, completamente morto, a criar vidas e lágrimas;
Oriundo de montanhas com folhas murchas
E ruídos vertiginosos
Na audácia obscura do canto

Um largo tubo de sóis amarelos
As lágrimas — chuvas de objectos —
Mares assassinados num tubo profundo
Atravessam a ruína sonora, a rotura do coração,
E os olhares severos da turba
Fragmentam-se e preenchem o cérebro
Como o golpe do tempo na morte do herói .

Ó ventania, imenso ciclone do infinito
A aniquilar furiosamente
— ó furacão imensurável —
A espádua desmembrada

Sou aquele que chega errante
E a morrer,
Que vagueia à deriva
Com as grades dos leões e as aves sem sentido
O acordeão e os violinos estupefactos,
A vender outonos maduros
Pelo arame que ata o céu ao mundo,
A vaguear à deriva
Absorto com a verdade colossal e o assombro
Como a aranha na sua teia
E os filhos futuros na infância do pai.


Pablo de Rokha, in "Rosa do Mundo" assírio & alvim, 2001
trad. Jorge Henrique Bastos

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