MAIS VELHO
O filho único seria o mais velho de seus irmãos
e em sua orfandade algo possui
do que se entende pela palavra velho. Como se também tivessem morrido
seus impossíveis irmãos mais novos.
Muito mais rigoroso que o luto repartido
é o seu; a morte cortou-o à sua medida,
coseu-o, lenta, com extrema finura,
enquanto o pai se ia vazando no filho,
envelhecia-o à força de o criar à sua imagem
— menino outra vez o homem, homem outra vez o menino —
em noites tão escuras como o luto que levam.
E o filho tem alguma coisa de um irmão mais velho
como se o rodeássemos, nonatos, enquanto ele nasce pela segunda vez
para uma vida mais grave que a nossa.
Alguém se olha nele como os olhos fechados,
gravita em seu silêncio
sobre as nossas palavras sem objectivo.
Enrique Lihn, in “Rosa do Mundo” assírio & alvim, 2001
Trad. José Bento
mais poemas e contos do autor aqui
O filho único seria o mais velho de seus irmãos
e em sua orfandade algo possui
do que se entende pela palavra velho. Como se também tivessem morrido
seus impossíveis irmãos mais novos.
Muito mais rigoroso que o luto repartido
é o seu; a morte cortou-o à sua medida,
coseu-o, lenta, com extrema finura,
enquanto o pai se ia vazando no filho,
envelhecia-o à força de o criar à sua imagem
— menino outra vez o homem, homem outra vez o menino —
em noites tão escuras como o luto que levam.
E o filho tem alguma coisa de um irmão mais velho
como se o rodeássemos, nonatos, enquanto ele nasce pela segunda vez
para uma vida mais grave que a nossa.
Alguém se olha nele como os olhos fechados,
gravita em seu silêncio
sobre as nossas palavras sem objectivo.
Enrique Lihn, in “Rosa do Mundo” assírio & alvim, 2001
Trad. José Bento
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