QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Sonolências de palhaços,
Desvirgadas a chorar,
Olhos lentos, longos, lassos,
Serpentinas aos pedaços,
Sonhos parados, cansaços,
Olhos de morta a cismar.

— Pedaços de coisas mortas
Esquecidos pelas portas –
Olheiras densas, cansadas,
Olhos de noites perdidas,
Serpentinas esmaiadas,
A baloiçar molemente,
E um frouxo riso murchando
Na boca de toda a gente.


António Pedro, in "antologia poética" angelus novus, 1998

ilustração de Justin deGarmo

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