Fatin Latour [ the corner of the table ] 1872


A ANGÚSTIA

Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.


Paul Verlaine, in "Poemas Saturnianos e Outros" assírio & alvim, 1994
trad. Fernando Pinto do Amaral


DEMOCRACIA

«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.
«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. Massacraremos as revoltas lógicas.
«Às terras aromáticas e dóceis! – ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.
«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»


Jean-Arthur Rimbaud, in "Iluminações / Uma Cerveja no Inferno" assírio & alvim, 1999
trad. Mário Cesariny

1 comentário:

Memória transparente disse...

Excelente Poesia.