Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937


MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO

Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.


Fernando Assis Pacheco, in "Sião" frenesi, 1987

4 comentários:

margarete disse...

jesus! agora ri e engasguei

vou enviar-te um email a explicar porque, mereces, porque, incauto, acabaste por me oferecer isto e porque vou roubar daqui


:)

margarete disse...

não envio o email porque não encontrei a morada :|

Artur Corvelo disse...

cum chavasco se este não é dos melhores escritores que por cá tivemos

Anónimo disse...

não conhecia este poema. Gostei, claro.