A vida comunica com um ponto da morte
ou talvez simplesmente com um morto.
O sonho comunica com as tuas mãos
ou talvez com uma só.
A noite comunica com o gesto
ou talvez com uma linguagem de vísceras imóveis.
O ar comunica com a página eterna dos diários
ou talvez com a ideia e sua respiração clandestina.
O nada comunica com o nada
ou talvez com o peixe desta palavra sem mar.

Mas há algo de obscuro em tudo isto,
algo de parecido com o triste ou talvez com as suas margens,
que nem sempre comunica
com o seu próprio e olvidado ser.
É como quando se apaga uma luz
com os olhos fechados.
E talvez menos ainda:
palavras escritas em papel
da cor da palavra.


Roberto Juarroz, in "Poesia vertical" campo das letras, 1998

1 comentário:

Ana Cristina Leonardo disse...

Vai ver o texto que o Zé Agostinho Baptista mandou para a Pastelaria. Bj