O JAPÃO NO FEMININO


As duas autoras presentes neste volume viveram no período mais florescente da história literária e artística do Japão — a era Heian — que durou cerca de 400 anos (794-1185). Ambas são figuras centrais dessa Idade de Ouro, durante a qual as mulheres escritoras tiveram um papel decisivo na fixação do japonês como língua poética e também na divulgação de uma forma principalmente feminina — o tanka — que mais tarde foi dando lugar ao haiku, inicialmente masculino e (talvez por isso) mais cedo conhecido e divulgado no Ocidente. Ono no Komachi (834?-?) e Izumi Shikibu (974?-1034?) foram as grandes representantes da poesia da corte de então e marcos importantes na poesia japonesa de todos os tempos que, ao longo dos séculos, se foram tornando uma lenda e uma referência.
Komachi serviu na corte imperial durante o primeiro meio século da sua existência. A sua poesia, profundamente subjectiva, apaixonada e complexa, contribuiu para uma era poética de excelência técnica e expressiva e de grande profundidade emotiva e filosófica.
Shikibu escreveu já no período áureo dessa cultura e ficou conhecida pela sua consciência religiosa e pela intensidade erótica da sua poesia lírica, tão íntima e comovente.
As duas mulheres — a primeira uma figura lendária na história literária do Japão, a segunda a maior mulher poeta do país — ultrapassam a sua época e podem, segundo os críticos, igualar-se às maiores autoras de qualquer período e quadrante.


O «Haiku nem é feminino nem masculino», diz Tsuji Momoko num volume de 1997, concluindo que «tudo o que temos são poemas líricos e poemas de humor em forma de haiku». Esta apreciação, vinda de uma mulher poeta nascida em 1945, condensa perfeitamente o que é, no Japão moderno, o pensamento feminino face à velha forma tradicional.
Nas vinte autoras presentes nesta antologia podemos acompanhar o percurso do haiku, sobretudo a nível temático e vocabular, desde o século XVII até ao final do século XX, na transição para o XXI, já que alguns títulos das poetisas presentes datam de 2000 e 2001. Atravessamos assim um Japão quase feudal, um Japão faminto e derrotado, após a Segunda Guerra, e um Japão actual, próspero e ocidentalizado, cuja poesia continua a entrelaçar o mundo humano e o da natureza, conjugando o tradicional e o contemporâneo.

"O JAPÃO NO FEMININO I — TANKA, Séculos IX a XI" e "O JAPÃO NO FEMININO II — HAIKU, Séculos XVII a XX" assírio & alvim, 2007

Organização e Versão Portuguesa de Luísa Freire

3 comentários:

lebredoarrozal disse...

eu tenho um livro fantástico de prosa, duma escritora dessa época, a sei shonagon.
o livro é o livro de cabeceira que deu origem ao filme do greenaway.

miguel. disse...

mais uma coisa para eu ir descobrir, gostei muito desse filme, mesmo muito.

lebredoarrozal disse...

o pillow book é um dos "meus" filmes:)