Neste volume, o autor associa a fortuna do readymade duchampiano a uma especial sorte de «rendez-vous». Primeiro como pura «distracção» ou lógica do acaso, e logo depois enquanto estratégia de despersonalização do gesto criativo. Porém, para lá da experiência do «encontro», o readymade apresenta-se como obra de arte recorrendo apenas a uma tripla inscrição (título, data e assinatura) que abre esse poderoso processo de significação observado entre a imagem do objecto e o verbo que resulta do trabalho de inscrição.
Seguindo de perto leituras tão decisivas para a compreensão do fenómeno readymade como as de Octavio Paz, Rosalind Krauss e Thierry de Duve, David Santos procura ainda acrescentar à filiação pictórica ou fotográfica desse gesto central para a arte contemporânea uma outra espécie de ligação, ao sublinhar a importância do universo produtivo mas também cultural da própria indústria.
Partindo do «encontro» entre sujeito e objecto, o readymade propõe assim uma radical desvinculação da expressão individual do primeiro, para afirmar, na assunção directa do segundo, uma interdisciplinaridade pioneira que privilegia o jogo conceptual e linguístico, ampliando definitivamente as opções materiais e processuais da arte do século XX.

David Santos "Marcel Duchamp e o Readymade — une sorte de rendez-vous" assírio & alvim, 2007

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