Pedes-me o corpo das assombrações.
Vais fumando uma música triste e repetitiva, enquanto olhas a agonia dos jacarandás tão bela. O cenário eléctrico dos candeeiros assusta-te, porém disfarças.
Perdes uma mão nos cabelos,
enquanto vais deixando cair o tempo no poço do tédio.
Chamo-te para uma fuga aparatosa, como se houvesse entre nós a cumplicidade de um crime ainda por cometer.
Mas — repara — lá fora soam já as sirenes, luvas policiais violam o silêncio dos amantes de rua em busca dos nossos corpos.
Podemos até estar mortos, derrubados por uma bala partilhada de coração a coração, a crescente poça de sangue onde já não nos distinguimos.
Ouves?: já não nos distinguimos, tu a apagar o cigarro,
eu a contar os teus dedos.
Vasco Gato, in "A prisão e paixão de Egon Schiele" & etc, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Gosto muito da poesia do Vasco Gato. Mais um bom poema de um livro excelente.
a meu ler é provavelmente um dos melhores poetas da sua geração...
post mais lindo: o Gato e os Amantes. :)
Enviar um comentário