FIDELIDADE

Porquê não se sabe ainda
mas ainda aos que amam o poeta porque ele lhes dá o livro do não trabalho
e diz cor-de-rosa diante de toda a gente
mas lhe lêem o livro só nas férias
(entre trabalho e trabalho)
e à noite vão a casas dizer cor-de-rosa em segredo a esses e ainda
aos que estudaram o problema tão a fundo
que saíram pelo outro lado
e armaram um quintal novo para as galinhas do poeta porem ovos
e disseram ao poeta estas são as nossas galinhas que tu nos deste
se elas não põem os ovos que amamos
matamos-te
e então o poeta vai e mata ele as galinhas
as suas belas galinhas de ovos de oiro
porque se transformaram em malinhas torpes
em tristes bichas operárias que cheiram a coelho

a esses e ainda
aos realmente explorados
aos realmente montes de trabalho
ou nem isso só rios
só folhas na árvore cheia do método árvore


Mário Cesariny, in “Pena Capital” assírio & alvim, 2004

3 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

grande poema! já não me lembrava. obrigada pela bica.

eyeshut disse...

"a esses e ainda"...

mais Cesarinys no mundo, Precisam-se.

miguel. disse...

de nada, a casa é que agradece as visitas...

eyes shut... eles "andem ai"
;)