Acontece deste modo: uma espécie de languidez;
o tique-taque incessante de um relógio nos ouvidos;
à distância, extingue-se o estrondo de um trovão.
Sinto, imprecisamente, os gemidos e as preces
de vozes irreconhecíveis, prisioneiras,
um círculo secreto estreita-se em redor;
mas, desse abismo de repiques e murmúrios,
ergue-se um som poderoso, triunfante.
E é tal o silêncio que o envolve
que se ouve como a erva cresce no interior do bosque,
como a desgraça percorre a terra com uma saca...
Agora, ouvem-se os primeiros balbucios das palavras
e das rimas leves os tímidos sinais —
e só então começo a compreender,
e as linhas simples, como que ditadas,
vêm deitar-se sobre a página branco neve.


Anna Akhmátova



Desses meus versos, escritos num tempo
em que eu nem sabia que era poeta,
brotando como a água das fontes,
como a labareda brota foguetes,

precipitando-se como se fossem diabretes
no santuário cheio de sonhos e de incenso,
desses meus versos de juventude, versos de morte
— desses meus versos que ninguém leu! —

perdidos na poeira das livrarias
(onde ninguém os pede, ninguém os pediu),
desses meus versos, como um vinho precioso, há-de chegar a vez.


Marina Tsvétaïeva

2 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

ESta mulher tem uns poema belíssimos! Grande bica

Ana Cristina Leonardo disse...

EStava a falar da Anna. A Marina não conhecia