Pensar sem ruptura mínima, sem astucia no pensamento, sem nenhuma dessas súbitas imposturas a que a minha medula está habituada como posto-emissor de correntes.
A minha medula diverte-se por vezes com esses jogos, deleita-se com esses jogos, com esses raptos furtivos a que preside a cabeça do meu pensamento.
Por vezes, bastar-me-ia uma só palavra, uma pequena palavra sem importância, para ser grande, para falar no tom dos profetas, uma palavra testemunho, uma palavra exacta, uma palavra subtil, uma palavra bem macerada na minha medula, surgida de mim, que se mantivesse no extremo último do meu ser,
e que, para toda a gente, não fosse nada.
Sou testemunho, sou o único testemunho de mim próprio. Esta crosta de palavras, estas imperceptíveis transformações do meu pensamento em voz baixa, da minha pequena parcela do meu pensamento que eu pretendo que estava já formulada, e que aborta,
sou o único juiz capaz de lhe medir o alcance.
Antonin Artaud, in "o pesa-nervos" hiena (1991)
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