MULHERES
Aqui estão espraiadas, as mulheres. Viram-se e reviram-se sobre as toalhas para bem se tisnarem por todos os lados. Trazem sacos e maridos para a areia. E filhos. De repente, sentam-se. Gritam: Ó Luís, ó Bruno Manuel, ó Fernando Jorge, ó Mafalda Sofia, ó Joana Filipa! Maternais e enfastiadas, vigiam os pequenoa. Ralham com os maridos como se estivessem a cantar uma canção de trabalho. Querem-nos à Mão.
Entram no mar pé ante pé. Quando a primeira onda lhes dá uma umbigada, soltam um bando de gritinhos. Afoitam-se, cabeça muito levantada para que a cabeleira não se molhe. E, então, começam a sorrir. Não há, nesse momento, quem as arranque do mar. Mas, com a muita, muita água, um pensamento indesejável assalta-lhes as imaginativas cabecinhas: o peixe que, do largo, pode vir, ligeiro, engolfar-se-lhes entre coxas.
Regressam às toalhas, aos guarda-sóis. Chamam, pelos seus nomes aos pares, os pares de crianças. Esbofeteiam-nas, beijam-nas, prodigalizam-lhes sanduíches de areia. Entretanto, os maridos foram dar uma volta.
Mulheres! Afinal sempre sozinhas sob a rosa do sol...
Alexandre O'Neill, in "uma coisa em forma de assim" edic,1980
imagem de Billy de Vorss
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