Federico Fellini [ Casanova ] 1976
CANTO VIGÉSIMO QUARTO *
A cona é uma teia de aranha
um funil de seda
o coração de todas as flores;
a cona é uma porta
que leva sabe-se lá onde
uma muralha
que se deve abater.
Há conas alegres
conas completamente loucas
conas espaçosas ou acanhadas,
conas de tostão e meio
bisbilhoteiras ou balbuciantes
e as que bocejam
sem dizer palavra
mesmo se as matas.
A cona é uma montanha
branca de doçura,
uma floresta onde os lobos circulam,
a carroça que puxa os cavalos;
a cona é uma baleia vácua
plena de escuridão e pirilampos;
a algibeira do pássaro
sua toca de dormir
um forno que tudo consome.
A cona no momento certo
é a face do Senhor,
a sua boca.
Pela cona nasceu
o mundo, com árvores, nuvens, o mar
e os homens, um de cada vez,
de todas as raças.
Da cona veio também a cona.
Diabos levem a cona!
Tonino Guerra, in "o mel" assírio & alvim (2004)
* poema "encomendado" por Federico Fellini a Tonino Guerra para o filme Cassanova
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