A JAULA E AS FERAS

Vivem centos de doidos nesse hospício
(Quem no diria, olhando cá de fora...?!)
E o portão dança já no velho quício,
Dança e faz entrar mais a toda a hora...


Trazem todos um sonho, um crime, um vício,
E foram reis lá muito longe, outrora...
E em seus rostos de espanto ou de flagício
Não sei que ausência atroz se comemora!


Faz medo e angústia olhá-lhos bem nos olhos;
E, lá por trás de grades e ferrolhos,
Estoiram de ansiedade desmedida.


- Meu corpo, ó meu hospício de alienados!
Abre-te aos meus desejos enjaulados,
Deixa-os despedaçar a minha vida!


José Régio, in "poemas de Deus e do Diabo" quasi (2002)

imagem de Pep Montserrat

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