[ fenda Da Loucura ] 1982


"escrever a loucura
escrever para não ser louco"

No seu percurso de escrita, e porque se trata de uma revista de e sobre a escrita, teria a Fenda de se defrontar com a loucura na sua relação à escrita.
Este número é dedicado a essa confrontação.
Tema imenso que os textos hoje publicados apenas percorrem, cada um à sua maneira, procurando uma incursão nesse domínio que se o é do indizível nem por isso deixou de fascinar os que, antes mesmo de nela sossobarem, encontram na escrita o modo de ir resistindo à aniquilação.
Não que a loucura seja em si própria produtora de obra, como o demonstra o silêncio final de um Nietzsche ou de um Holderlin. A escrita nasce antes de uma fuga desesperada a esse abismo da razão, como muito bem o exprime a angustiada confissão de Bataille: "Ce qui m'oblige d'écrire, j'imagine, est la crainte de devenir fou".
"Tocando as raias da loucura", na expressão evocada por F. Belo, escreve-se aqui em torno de Artaud, Ângelo de Lima, Isabel de Sá, os contos populares portugueses ou simplesmente o Homem, mesmo quando o alastramento civilizacional do Narcisismo faz emergir o poder incontido da pulsão de morte.

Tito Cardoso e Cunha

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