Fosses tu deus, seria eu santo
alimentado a areia e gafanhotos,
sem cessar meditando o único nome
que o horizonte deserto não contém.
Sonho que acordo dentro do meu sonho
para o saber mais certo e mais real;
como o místico leio nas entranhas
da ausência a tua sombra desenhada.
E no entanto és gente, és sangue e terra,
corpo vulgar crescendo para a morte;
incerto no que fazes, no que sentes
e cioso do tempo que me dás.
Porque sei que me esqueces é que lembro
cada instante o que perco e não vem mais.

António Franco Alexandre, in "duende" assírio & alvim (2002)

imagem de Randal Gordy Lee

1 comentário:

magarça disse...

Não me canso de o ler...os quatro últimos versos estão gravados na minha (fraca) memória...