Emma Santos "O Teatro" assírio & alvim (1981)


Emma Santos escreve e interpreta a doença, a dor física e o sofrimento mental, denunciando as semelhanças entre a loucura dos métodos usados para a tratar e a própria loucura. Emma Santos defronta-se com a loucura das instituições psiquiátricas onde foi internada e onde lutou para recuperar a sua voz. Segundo a sua mãe, a loucura é o teatro pessoal de Emma e a sua comédia traduz-se numa enorme solidão, vivida entre electrochoques e as outras doentes.


"A Loucura, imagino-a mulher, alta, inchada pelos medicamentos, semi-nua, só com um roupão de nylon acolchoado às flores roxas ou cor de rosa. Vi-a lá no hospital, todas as doentes eram uma e a mesma, devorando bolos e guloseimas ou de cigarro nos beiços.

O homem louco é mais discreto, fuma sentado na poltrona, lê o jornal, joga às cartas e não conta o sofrimento aos uivos como a mulherzinha loucura. Enforca-se e deixa como recordação um sexo enorme e erecto.

A Loucura-Mulher pois há muito que foi castrada, privada da linguagem, sem poder limpar pigarro, ar idiota, malcastrada."


Emma Santos in "O Teatro"


(a presente edição de “O Teatro” reproduz o texto por si representado cenicamente, entre Dezembro de 1976 e Janeiro de 1977)

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