Minha morta viva

Na minha dor nada se move
Estou à espera ninguém virá
Nem de noite nem de dia
Nem jamais do que fui eu próprio

Meus olhos separaram-se dos teus e perdem
a confiança perdem o briho que tinham
Minha boca separou-se da tua boca
de prazer e do sentido
do amor e do sentido da vida
estas mãos separaram-se das tuas e não seguram
nada
Os meus pés separaram-se dos teus
não andarão mais não há mais caminho
deixaram de sentir o peso e o repouso que lhes dava
É-me dado a ver a minha vida
esvair-se com a tua
a tua que por ser seu poder
me faz julgar infinita a minha

E o porvir minha única esperança é minha tumba
semelhante à tua cercada por um mundo sem calor

Estava tão proximo de ti que junto dos outros sinto frio.

Paul Éluard in. "Últimos Poemas de Amor" relógio d'água

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