A Mosca

Um comerciante grego chegou a uma aldeia abandonada, sem vivalma nem pinga de água. O sol parecia ter caído à terra. Morava ali um velho que se alimentava de melões e recolhia o orvalho em toldos negros, estendidos pela noite sobre a casa. Era um velho que tinha uma mosca no nariz. Uma mosca que, de vez em quando, saía ao sol e, depois, de novo, se enfiava na cavidade. Espantado, o comerciante seguia, com atenção, o que acontecia. Perguntou-lhe como conseguira demesticá-la. O velho respondeu que nada fizera. A mosca havia entrado no nariz no dia em que a sua mulher falecera. Pensara, portanto, que seria a sua mulher. Ao dirigir-se para o Land Rover, o comerciante reparou que a mosca lhe tinha entrado no nariz. E o velho, ameaçando-o com uma cimitarra, correu atrás dele a reclamar a sua mosca. Com violência, o comerciante assoou-se várias vezes até que a mosca foi projectada no lenço. Estava morta. Entregou-a ao velho que se fechou em casa e, sob a areia do galinheiro a sepultou.

Tonino Guerra in. " Histórias para uma noite de calmaria " assírio & alvim
desenho de Tonino Guerra

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