O SENHOR K. E OS GATOS

O senhor K. não gostava de gatos. Não lhe parecia que fossem amigos do homem, e portanto não era amigo deles. «Se tivéssemos os mesmos interesses», dizia, «a sua atitude hostil ser-me-ia indiferente.» No entanto, o senhor K ficava contrariado se tivesse de fazer os gatos saltarem da sua cadeira. «Deitarmo-nos a descansar é um trabalho», dizia, «e deve por isso ter êxito.» Por outro lado, quando os gatos se punham a miar atrás da porta levantava-se da cama, mesmo que fizesse frio, e deixava-os entrar para o quente. «O cálculo que eles fazem é simples», dizia. «Quando deixamos de ir abrir-lhes a porta, deixam de chamar. Logo, chamar é um progresso.»

Bertolt Brecht, in "Assinar a pele" assírio & alvim, 2001
trad. Luís Bruhein

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